- 16 de julho de 2019
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Reforma da Previdência é passo importante, mas não garante retomada do crescimento, dizem economistas
Com a Previdência encaminhada, analistas avaliam que o Brasil precisa endereçar reforma tributária, melhorar o ambiente de negócios, avançar nos projetos de infraestrutura e promover a abertura da economia.
A reforma da Previdência é um passo importante para a melhora da
atividade econômica no país, mas, sozinha, não vai garantir um
crescimento robusto sustentado ao longo dos próximos anos.
Com a reforma da Previdência encaminhada após a aprovação em
primeiro turno na Câmara dos Deputados, o Brasil tem uma agenda
extensa para a retomar o crescimento, avaliam os economistas.
A pauta de medidas engloba endereçar uma reforma tributária,
melhorar o ambiente de negócios do país, avançar nos projetos de
infraestrutura e promover a abertura da economia.
Por ora, os analistas avaliam que uma aceleração do crescimento
econômico não deve ocorrer tão cedo. Para 2019, estimam um avanço
do Produto Interno Bruto (PIB) abaixo de 1%. O relatório do início de
julho de mercado, conhecido como “Focus”, divulgado pelo Banco
Central, previa crescimento de 0,85%.
No ano que vem, há expectativa de uma aceleração, mas nada que
empolgue muito. Dificilmente o crescimento deve chegar a 2%,
ponderam os economistas.
A seguir veja a avaliação de economistas sobre a agenda pós-Previdência necessária para o Brasil retomar o crescimento.
Affonso Celso Pastore, presidente do Centro de Debate de Políticas Públicas e da consultoria AC Pastore
Qual deve ser a agenda do governo pós-Previdência para retomar o
crescimento?
AFFONSO CELSO PASTORE: O crescimento econômico requer outras
reformas. São reformas extremamente importantes, como a tributária. É
a reforma como a que foi proposta pelo Appy (Bernard Appy, diretor do
Centro de Cidadania Fiscal), que está na agenda da Câmara dos
Deputados. Também precisamos abrir a economia para o setor externo,
aumentar a competitividade da nossa indústria, fazer um forte
investimento em infraestrutura. É necessária ainda uma extensa agenda
de reformas econômicas que mexam com a produtividade do trabalho,
com a produtividade do capital. Com isso feito, eu acho que o Brasil terá
condições de adquirir um crescimento econômico sustentável.
Quando o país pode vislumbrar uma melhora do crescimento?
AFFONSO CELSO PASTORE: Nós temos hoje uma renda per capita que
está 9% abaixo do patamar que ela estava no início do ciclo (recessivo,
em 2014), e são 13 milhões de desempregados. Quer dizer, não
podemos esperar que o consumo das famílias seja uma força propulsora
da economia. O país tem uma capacidade ociosa na indústria muito
grande, e a maturação dos investimentos em infraestrutura é longa, de
forma que nós não temos o investimento sendo uma força propulsora.
Não temos também impulso vindo das exportações. E, finalmente, não é
possível usar estímulos fiscais porque o governo está fazendo o
contrário, está fazendo um ajuste. Ele corta gastos. Isso significa que a
recuperação da economia é lenta. Não há como sonhar uma
recuperação muito forte.
Diante desse quadro, como fica o emprego no país?
AFFONSO CELSO PASTORE: Há um certo sonho de que a simples
aprovação da reforma da Previdência produziria uma explosão de
investimentos, e o Brasil voltaria a crescer como jamais cresceu no
passado. Isso não é verdade. Infelizmente, nós vamos ver o declínio da
taxa de desemprego lentamente ao longo do tempo, assim como a
recuperação da renda per capita. Será mais rápido se o país andar mais
depressa com as reformas, como a tributária, promover a abertura da
economia, e fazer as medidas microeconômicas. Portanto, está na nossa
mão acelerar essa recuperação. Se nós dormirmos na glória de termos
feito a reforma da Previdência, infelizmente a recuperação será muito
mais lenta.
Ana Carla Abrão Costa, sócia da consultoria Oliver Wyman
Qual deve ser a agenda do governo pós-Previdência?
ANA CARLA ABRÃO: Há três conjuntos de reformas muito importantes.
O primeiro ataca o mercado de crédito. O Banco Central já vem
trabalhando nisso: há medidas que ampliam o acesso ao crédito e
reduzem o custo para a população. Existem medidas voltadas para a
infraestrutura. O país precisa retomar a capacidade de investimento,
mas o governo federal e os estados não têm essa capacidade. O Brasil
precisa atrair investimento privado e isso exige várias medidas, que
também estão sendo formuladas no âmbito do governo federal e que
vão ter de passar pelo Congresso. E terceiro, precisamos de reformas
que tragam maior produtividade para o setor público.
Por ora, estados e municípios não foram incluídos na reforma.
Qual é a sua avaliação sobre essa ausência?
ANA CARLA ABRÃO: A não inclusão de estados e municípios tem um
impacto muito negativo que não aparece agora no curto prazo, mas que
vai aparecer na frente. O déficit da Previdência dos servidores estaduais
e municipais é muito grande. O economista Paulo Tafner calculou um
déficit em torno de R$ 140 bilhões só em 2019. E esse déficit é crescente.
Então, sem uma reforma, o que estamos economizando na reforma
federal vai ter de ser desembolsado porque estados e municípios vão
recorrer ao governo federal para cobrir seus déficits.
Estados e municípios vão, inevitavelmente, enfrentar um
problema?
ANA CARLA ABRÃO: O país vai gastar lá na frente para ter de socorrer
estados e municípios que vão colapsar por falta de recursos para cobrir
esses déficits e, obviamente, vão bater em Brasília para pedir recursos no
governo federal. Os 26 estados e o Distrito Federal precisam de uma
reforma da Previdência porque, do contrário, teremos mais situações
como a do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro. O problema da
Previdência nos estados está contratado. É estrutural.
Marcos Lisboa, presidente do Insper
Qual deve ser a agenda do governo pós-Previdência?
MARCOS LISBOA: Há três áreas essenciais para avançar. Não estou
falando de grandes reformas. Estou falando em fazer a faxina da casa,
arrumar a disfuncionalidade em que o país entrou com uma série de
pequenas medidas. Primeiro, a questão tributária. A estrutura tributária
brasileira se tornou disfuncional e está asfixiando as empresas do país. A
mesma coisa acontece com o comércio exterior. Tem um dever de casa
de acertar as tarifas, as barreiras não-tarifárias, a burocracia do comércio
exterior. Terceiro, infraestrutura. A gente não vai ver a volta do
investimento em energia e transporte com a confusão que se tornou o
país para investir em infraestrutura. Você começa um projeto, aí só
depois vem as obrigações ambientais e sociais, que podem surpreender.
Essa insegurança do investimento em infraestrutura está afastando o
setor privado.
Qual será a consequência se o país não endereçar essa agenda?
MARCOS LISBOA: Se não acertar a questão tributária, do comércio
exterior e da infraestrutura, a notícia é ruim. O país chegou na situação
em que chegou por tentativas precipitadas de descobrir um atalho,
inventar uma novidade, desonerar a folhar, dar um crédito do BNDES,
dar um estímulo para um determinado setor. Essas medidas
precipitadas é que geraram esse caos institucional que a gente vive no
ambiente de negócios. É preciso desfazer o que foi feito na última
década para que o investimento volte a crescer e o país volte a gerar
mais renda. Essa agenda está demorando para avançar. E quanto mais
demora para andar, piora a estagnação.
Nos últimos anos, o PIB per capita caiu e o Brasil ficou mais pobre.
Como você vê isso?
MARCOS LISBOA: É bem preocupante. Já há algumas décadas o Brasil
vem ficando para trás. Para dar um dado, entre 1995 e 2016, a renda dos
países emergentes fora da América Latina cresceu quase 130% por
trabalhador. Nos Estados Unidos, avançou 48%. E no Brasil, cresceu 18%,
19%. Esse problema se agravou a partir de 2010. Até então, o Brasil não
crescia tanto como os emergentes, mas pelo menos a gente crescia
como o resto do mundo. Era um crescimento menor, medíocre, mas
estava de bom tamanho frente ao que viria depois. A partir de 2010,
o Brasil descolou do resto do mundo. Estamos ficando mais pobres,
estamos ficando para trás e, quanto mais demorarmos para enfrentar
esta agenda de melhora institucional e das contas públicas, mais para
trás nós vamos ficar.
Alessandra Ribeiro, responsável pela área de macroeconomia da consultoria Tendências
Qual deve ser a agenda do governo pós-Previdência?
ALESSANDRA RIBEIRO: O governo tem de agilizar algumas agendas e a
principal delas é a do investimento. É preciso avançar no programa de
concessões de infraestrutura — rodovias, portos, aeroportos e ferrovias
— para o setor privado e, dessa forma, acelerar os efeitos desses
investimentos para a atividade econômica e para o emprego. Há outras
agendas importantes, certamente, como a reforma tributária, mas essa é
uma agenda que vai demorar. É preciso, inclusive, entender qual é o
projeto do governo. Isso vai demorar um pouco. Mais imediatamente é
agilizar a agenda de investimentos.
O desemprego está elevado, o que também dificulta uma
recuperação. Quando será possível ver uma reversão do quadro?
ALESSANDRA RIBEIRO: A Tendências projeta um crescimento da
economia um pouco abaixo de 1% neste ano. No ano que vem, um
avanço de 2%. A economia ganha um pouco mais de tração a partir de
2021. Nesse cenário, a taxa de desemprego cai muito gradualmente,
ainda estimamos taxa de desemprego em 11% ao final de 2022. Mas isso
não significa que a economia não está gerando emprego. Está, mas é um
trabalho mais informal. Nós esperamos este ritmo de criação de
emprego ganhando mais tração, crescendo ao redor de 1,5% ao ano,
mas com uma mudança na sua composição, de menos informal e mais
formal.
E qual é a expectativa para renda?
ALESSANDRA RIBEIRO: Esperamos um crescimento da renda mais
próximo a 1% este ano. Ela ganha um pouco de tração com a mudança
de composição de trabalhador menos informal e mais formal. O
trabalhador com carteira tem um salário médio um pouco maior. Então,
isso contribui para o aumento do rendimento a partir de 2022 e 2023.
Quando nós olhamos a massa de renda, que considera tanto a geração
de emprego quanto o salário médio real, a massa de renda deve crescer
na casa de 2,5% ao longo dos próximos anos.
MATÉRIA: G1